Sexta-feira 13: Cinco filmes para assistir com ou sem medo de ser feliz

Os streamings chegaram de mansinho há alguns anos e hoje dominam boa parte das casas de quem procura algo para assistir. Nota-se que até mesmo a velha pirataria via torrent tem perdido espaço. São questões que, por agora, não vêm ao caso. Mas prometo retornar em um artigo futuro (em breve), pois a questão é a sexta-feira 13 e como utilizar o melhor dos serviços de streaming para aderir a esse dia tão cheio de significados.

Enquanto na numerologia o número 12 é considerado completo, o 13 é irregular, sinal de infortúnio, de azar. Mas Zagallo é tetracampeão e adora o 13! Explique essa agora! Confesso que não sou numerólogo (bem longe dessa prática, aliás), mas é sempre complicado utilizar uma exceção para tentar transformá-la em regra. Vai ver o Mario Jorge é o próprio enviado das trevas. Ou, ainda, é um enviado dos céus que nada tem a temer… muito menos um pobre número.

Não. Eu também não acredito em qualquer uma dessas possibilidades. Mas e daí?

Se o 12 simboliza o ano e seus meses, as tribos de Israel, os apóstolos de Jesus Cristo e as 12 constelações do Zodíaco, o 13 foi somente mal interpretado ao longo da história. Mas vale dizer que, entre tantas coincidências (será?), 13 de dezembro de 1968 (uma sexta-feira) foi o dia em que o governo militar do Brasil decretou o AI-5, que, entre outras coisas, suspendeu direitos e garantias políticas, decretou estado de sítio no Brasil e deu poderes aos militares de fechar o Congresso. Fora isso, sexta-feira foi o dia da crucificação de Jesus, motivo para cristianizar o azar desse dia da semana e uni-lo às tantas interpretações do número 13.

Mas e os filmes?

Pois preparem o sofá, a poltrona ou o que mais for de costume, conversem com o deus de vocês – independente de quem ele seja (inclusive nenhum) – e assistam aos filmes a seguir. De preferência, sem criar expectativas e com uma boa válvula de escape para tirar os olhos da tela sem passar vergonha.

Ah! A lista não está em nenhuma ordem proposital. São filmes completamente diferentes entre si e, também por isso, a comparação qualitativa pode ser bem injusta.

Pois lá vão eles:

Hush: A Morte Ouve

A premissa parece simples: Há uma casa localizada em uma floresta. Nessa casa, uma mulher surda-muda está sozinha. A tranquilidade, obviamente, é interrompida. Isso porque um assassino começa a perturbar a pobre moça.

Parece e é simples! E é nessa simplicidade que o diretor Mike Flanagan (o mesmo de Ouija: A Origem do Mal e dos bons O Sono da Morte e O Espelho) aposta, muitas vezes deixando de lado os velhos sustos induzidos pela trilha repentinamente forte e investindo em uma tensão crescente que culmina no excelente terceiro ato.

Conseguindo driblar a maioria dos clichês, a tensão é crescente de uma forma que, ao final, faz querer sentir sua própria respiração. Além de ser um filme curto, seus 81 minutos passam como 20 e conseguem o essencial para um filme do gênero: fazer com que nos importemos com quem está protagonizando a história e torçamos contra quem antagoniza.

Hush: A Morte Ouve não é uma obra-prima. Pode até estar bem longe disso. Mas é uma boa pedida para esse dia mal-assombrado.

O Convite

Se você está querendo incômodo e não está à procura de sustos, O Convite pode ser a melhor pedida. De ritmo mais lento do que a predisposição a filmes comerciais está acostumada, esse filme constrói um sentimento crescente de que algo ruim está para acontecer.

Mas acontece?

Vale conferir sem a resposta. Pelo sim ou pelo não, é bom se preparar para um reencontro regado com amizade e, ao mesmo tempo, com desconfiança. Melhor ainda ao reparar a utilização da luz e da sombra pela fotografia de Bobby Shore e como ela induz justamente à dúvida.

Para deixar tudo mais bacana, O Convite é dirigido por Karyn Kusama, diretora e roteirista do excelente Boa de Briga. Por mais que tenha tropeçado com o irregular Garota Infernal, dirigiu também a subestimada e injustamente pouco comentada sci-fi Æon Flux, com Charlize Theron.

O que fazemos nas sombras

Agora, digamos que o que você procura é se divertir. “Ah! Cansei de sustos e incômodos. Minha vida já é um terror. Eu quero assistir a um filme no clima da sexta-feira 13 e conseguir dormir feliz, sorridente e serelepe”.

Aí a melhor opção é a coprodução entre a Nova Zelândia e os Estados Unidos O Que Fazemos nas Sombras. Uma comédia de terror (terrir) que referencia alguns dos principais vampiros da história do cinema, como o Drácula de Drácula de Bram Stoker (dirigido por Francis Ford Coppola) e o Nosferatu do expressionismo alemão (dirigido por F.W. Murnau) – ambos curiosamente adaptados do mesmo livro: Drácula, escrito pelo inglês Bram Stoker.

No filme, três vampiros dividem uma casa e encontram dificuldades humanas na convivência. Além das complexas decisões sobre o que vestir para permanecerem encaixados em padrões sociais atuais (após terem vivido tantos séculos), precisam organizar festas para conseguirem encontrar sangue humano e ter alguma renda para as despesas diárias.

E não para por aí! Tudo isso é filmado como um mockumentary (falso documentário, como A Bruxa de Blair e Atividade Paranormal) e, sem dúvida alguma, é dos melhores terrirs despretensiosos dos últimos anos.

Além da Netflix, título também pode ser conferido no Looke e iTunes.

The Nightmare

Aí chegamos a um documentário real. Mas será mesmo? Há controvérsias… A verdade é que entre tantos exemplares de terror e de terrir nos streamings, The Nightmare é um dos mais assustadores.

Se por um lado isso se deve ao fato de ser justamente um documentário, por outro essa é a sua talvez única fraqueza. Isso porque o diretor Rodney Ascher não mergulha a fundo na problemática, a paralisia do sono. Ele explora as entrevistas como se caminhasse pela mente do espectador, buscando situações de tensão até mesmo no que há de mais comum.

E é exatamente isso que acaba por descortinar todo um terror adormecido, que faz com que desejemos dormir com as luzes acesas. Ver encenações de pesadelos reais não somente aflige, mas causa o essencial para que sintamos o horror: identificação. Dificilmente não lembramos de algum pesadelo terrível que tivemos e, inconscientemente (ou não), podemos associar o que passamos às encenações vistas, o que está bem longe de ser agradável ou tranquilo. Se você for uma pessoa empática então e conseguir se colocar no lugar de quem tem (ou teve) a paralisia do sono – como as que dão seus depoimentos para The Nightmare –… pronto. Desejo sorte.

Tudo bem… Como documentário, é falho por não procurar embasamento através de psiquiatras e profissionais da área sobre os relatos dos oito entrevistados – sendo a fundamentação praticamente zerada –, por outro (e se for levado muito a sério) pode ser que um novo subgênero do terror esteja batendo à nossa porta. E mesmo começando assim, imperfeito e inconsistente, é extremamente assustador.

Deathgasm

“Sai daí! O que eu procuro é uma coisa mais trash, algo gore com uma pegada meio oitentista. Eu quero muito sangue!” Seus problemas acabaram então com a segunda coprodução entre a Nova Zelândia e os Estados Unidos da lista! Basta assistir ao desajustado Deathgasm, que entra por aqui como o exemplar mais loucamente doentio.

Mas não se engane: apesar de todo o banho de sangue promovido pelo diretor e roteirista Jason Lei Howden, é um filme que sabe muito bem onde quer chegar. Corajoso e muito consciente do território que está mexendo, Deathgasm tem como referências claras Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio (o já clássico do gênero The Evil Dead, de Sam Raimi) e o recente Todo Mundo Quase Morto (o brilhante terrir de Edgar Wright – diretor de Em Ritmo de Fuga).

Recheado ainda de muito rock – com foco no heavy metal – Deathgasm é, sem dúvida alguma, o filme com os diálogos mais sarcásticos dessa curta lista. Se o mundo dos protagonistas é bizarramente mudado quando encontram uma partitura demoníaca e resolvem tocar com sua banda, ao mesmo tempo o roteiro deixa explícita uma crítica sobre as pessoas que nutrem preconceito com esse gênero musical. Preconceito que, aliás, não deveria existir sobre nenhum gênero (inclusive cinematográfico)… Isso é assunto para mais um outro texto.

Mas são os efeitos práticos, a clara referência ao filme de Sam Raimi, a comédia escrachada, os rios de sangue e, acima de tudo, a coragem de se assumir como um filme B que tornam Deathgasm uma das apostas sem noção mais certeiras. É mais um que é imperfeito (até longe da perfeição). Mas não é inconsistente. Pode, por outro lado, não ser exatamente assustador, mas é sincero e vale todos os poucos 86 minutos de duração.

Percebam que a lista é eclética. São cinco filmes completamente diferentes um do outro (como dito na introdução). Outra ideia foi fugir dos clássicos (como O Exorcista, O Bebê de Rosemary, A Hora do Pesadelo, Sexta-Feira 13 e Hellraiser – Renascido do Inferno) e de obviedades (como O Babadook e Sobrenatural) e, ao mesmo tempo, encaixar-se na limitada quantidade de filmes de terror e associados no acervo dos streamings.

Todos temos o direito de gostar ou não de uma “pegada”. A democratização é essencial nesses casos. Ainda mais se partirmos do pressuposto de que nenhuma lista é unânime e, como diria Nelson Rodrigues, que “[t]oda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.”

Seria unânime pensar assim? Sei não… Mas que seja uma sexta-feira 13 unanimemente de sorte para todos! Inclusive na escolha do filme para assistir.

 

Fonte: Canal Tech

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