Roswell, 72 anos: o que sabemos?

Uma coisa é certa: os militares comprovadamente mentiram

Na manhã de 8 de julho de 1947, a assessoria de imprensa da Base Aérea do Exército em Roswell soltou o seguinte comunicado à imprensa:

“Os vários rumores a respeito dos discos voadores se tornaram uma realidade ontem, quando o escritório de inteligência do 509º Grupo de Bombardeio da 11ª Força Aérea, Basea Aérea do Exército em Roswell, teve a sorte de ter em posse um disco através da cooperação com um dos rancheiros local e o escritório do xerife de Chaves County. O objeto voador pousou num rancho perto de Roswell em algum momento na semana passada.”

Não possuindo telefone, o rancheiro guardou o disco até quando ele foi capaz de entrar em contato com o escritório do xerife, que em seu turno notificou o major Jesse A. Marcel do Escritório de Inteligência do 509º Grupo de Bombardeiro. Ações foram tomadas imediatamente e o disco foi recuperado da casa do rancheiro. Foi inspecionado na Base Aérea do Exército em Roswell e a seguir levada pelo major Marcel para a autoridade superior.

E a imprensa, compreensivelmente, foi à loucura. Roswell, uma cidadezinha do Novo México, se tornaria sinônimo mundial de contatos com inteligências extraterrenas. Mas, antes do fim do dia, seria publicado o desmentido, dessa vez pelo tal quartel superior, a base de Forth Worth, Texas, para onde haviam sido enviadas as partes do disco. (Não foi a Área 51 – essa fica em Nevada, estado de Las Vegas). Era só um balão de pesquisas climáticas, disseram os militares.

A história havia começado no dia 14 de junho, quando o rancheiro em questão, William Brazel, achou alguma coisa a 30 km de Roswell, Novo México. No dia 7, ele foi até a cidade, encontrou o xerife George Wilcox e afirmou que tinha achado “um desses tal disco voador”. O xerife entrou em contato com a base e ele o major Marcel foram ver. Os restos foram pegos, brevemente observados e, com a autorização do chefe da base, o general William H. Blanchard, foi publicada a versão do disco voador.

Foto divulgada com o desmentido / Crédito: Reprodução

Um dia após o desmentido, Brazel foi entrevistado e afirmou que o que havia recolhido eram apenas tiras de borracha, papel alumínio, um papel duro e hastes metálicas. Caso encerrado.

Caso arquivado

Fosse hoje em dia, nunca mais deixaria de circular a versão original. Como foi em 1947, a história morreu por aí. Uma mera confusão.

Passar-se-iam 31 anos até se falar em Roswell novamente. Foi quando o físico nuclear tornado ufólogo Stanton T. Friedman encontrou um major Jesse Marcel aposentado e disposto a falar. Marcel, que em 1947 havia mencionado apenas os pedaços de borracha e papel alumínio, afirmou então que o que viu era mesmo um disco voador e que ele mesmo havia trocado os restos do disco para os de um balão, nas fotos, para acobertar a história. Também afirmou que ele próprio pilotou o avião. E que tinha formação em física.

Estas duas últimas, um tanto quanto… verdade alternativa. Marcel não pilotava nada nem havia se formado. Guarde isto, que é importante.

Depois de Marcel, outros velhinhos de Roswell saltaram para dar suas versões. Walter Haut, o tenente que escreveu o comunicado original, começou dizendo que não era realmente uma testemunha. Em 1979, afirmou que não havia visto nada, nem o permitiram ver quando pediu. Mais tarde, começou a reforçar o quanto acreditava que seu chefe, o general Blanchard, definitivamente acreditava que havia visto um OVNI, que não poderia ter ele — nem tampouco Marcel — achado que balão era disco voador. Em 2000, a história avançou para ele dizer que viu pessoalmente não só o disco, como alienígenas mortos nele.

Haut afirmava que só podia dizer tudo o que sabia após sua morte, por uma promessa feita ao general. Ele se foi em 2005 e, em 2007, o livro Witness to Roswell: Unmasing the 60 Years Cover-Up (Testemunha de Roswell: Desmascarando 650 Anos de uma Operação Abafa) trouxe seu testemunho final. Nessa versão, logo após escrever o comunicado, Haut foi levado a um hangar onde estavam a nave e vários corpos minúsculos.

Soube então que havia em verdade dois locais com vestígios alienígenas: o encontrado pelo rancheiro era na verdade o campo menor. A nave havia sido achada pelo exército em outro lugar — e daí os militares decidirem lançar um comunicado sobre o campo que já havia sido visto por civis e era mais fácil de acobertar.

Local onde o disco voador teria pousado, em Roswell / Crédito: Reprodução

Haut e Marcel são apenas as testemunhas mais próximas do incidente a falarem. Várias outras surgiram para afirmar terem visto a nave em terra e no ar, ou até terem sido abduzidas em 1947. Um deles, Glenn Dennis, agente funerário, afirmou ter levado os corpos dos alienígenas a pedido do Exército. E, com Haut, fez disso um negócio, o Museu do OVNI (Museum of UFO).

A conspiração terráquea

Mas Glenn disse isso só em 1989. E aí moram as suspeitas. Testemunhos de Roswell são vistos como extremo ceticismo por historiadores e cientistas. Marcel era um mentiroso, Haut estava no fim da vida, mentalmente instável. Tanto eles quanto todas as outras testemunhas (que continuam a aparecer) só parecem ter descoberto ter visto alienígenas depois de 1978. O famoso vídeo da autópsia, se você está se perguntando, é uma fraude dos anos 1990, feita pelo cineasta Ray Santilli.

Mas houve, sim, uma conspiração. Só não a que os ufólogos querem ver. Documentos revelados em 1994 mostraram a razão da correria toda do Exército – e quem sabe também essa conversa de alienígenas, uma tentativa mais que estabanada para ocultar a realidade. Os civis e militares envolvidos haviam visto uma coisa realmente esquisita. E ultrassecreta.

O Project Mogul era uma inciativa da Aeronáutica para descobrir se os soviéticos estavam fazendo testes nucleares. Consistia em se lançar balões meteorológicos presos uns aos outros em filas, de forma a manterem-se numa altitude estável na alta atmosfera. Carregavam rádios, microfones e estranhas estruturas de papel alumínio. Sua função era detectar pelo som de uma explosão nuclear, a meio mundo de distância.

O projeto tinha uma base científica sólida, mas se mostrou caro demais em relação às alternativas, detectores sísmicos e amostras de radiação no ar. E, como mostrou Roswell, não era exatamente discreto.

Essa é a algo frustrante e não alternativa verdade conhecida sobre Roswell. Para acreditar que houve mesmo alienígenas, também é preciso aceitar uma massiva operação de acobertamento, durando sete décadas, que envolve não só o governo e o Exército, como cientistas, a imprensa e as próprias testemunhas, durante as três primeiras dessas décadas. Uma conspiração envolvendo o mundo inteiro.

Fonte: Aventuras na História

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