Remakes de Hollywood

Muito se fala da falta de criatividade de Hollywood e que o cinemão americano prefere investir em suas franquias consagradas a investir em ideias novas. Em parte isso é verdade, mas em parte não é. Iremos destrinchar isso por aqui.

De fato, houveram poucos blockbusters com roteiro original em 2016. A animação Zootopia, da Disney, foi uma feliz exceção: não é baseado em nada, mas há diversas referências pop e inspirações até mesmo dentro da própria Disney (a história de alguém com um sonho dito impossível já foi muito bem retratada em vários filmes clássicos).

Não que isso seja um demérito para Zootopia, muito pelo contrário: a forma na qual foi contada, mostrando a relação entre predador e presa, foi puro deleite cinematográfico. A animação foi elogiada por público e crítica. Até o momento é a segunda bilheteria de 2016, ultrapassando a marca de 1 bilhão de arrecadação e deixando para trás grandes promessas como Batman vs Superman, X-Men Apocalipse, entre outros.

Mas o que sustenta a Hollywood atual é suas franquias. Se pegarmos os filmes do verão americano, todos são continuações ou remakes e até mesmo os ditos “originais” eram baseados em algo. A animação Angry Birds, baseada no famoso game, Esquadrão Suicida, baseado na HQ, Como eu Era Antes de Você, baseado em um livro.

Mas, afinal, Hollywood perdeu a criatividade?

Se levarmos em conta seu histórico, a resposta é não. Há vários exemplos de filmes clássicos que são remakes de outros antigos e alguns deles superaram os originais. Scarface é baseado em um filme de 1932 e superou seu antecessor, o mesmo vale para Onze Homens e um Segredo, A Identidade Bourne, Atração Fatal, O Talentoso Ripley, True Lies, O Enigma do Outro Mundo, entre outros.

Até mesmo um diretor considerado autoral, como Martin Scorsese, tem dois de seus filmes que são remakes, e são tão grandiosos que os originais não deixaram saudades, embora sejam também grandes filmes: Os Infiltrados, filme que finalmente deu Oscar de direção a Scorsese, é baseado em um filme de Hong Kong de 2002, Conflitos Internos. E o grande suspense Cabo do Medo, de 1991, com Robert De Niro e Juliette Lewis no elenco, é baseado em Círculo do Medo, de 1961.

E qual é a semelhança entre todos esses remakes citados? São grandes filmes. Alguns deles a crítica considera até hoje como clássicos, mas o grande diferencial é que ambos não quiseram copiar o original. Embora tenham respeitado o material , os diretores e roteiristas deram um tom mais autoral em suas obras: há muito de Scorsese em Os Infiltrados e Cabo do Medo, Atração Fatal é claramente um filme de Adrian Lyne e qualquer tomada de True Lies entrega que este é um filme de James Cameron.

Há outra diferença peculiar entre esses filmes e os remakes de hoje em dia: muitos desses filmes originais não eram exatamente blockbusters e se tornaram conhecidos após Hollywood revitalizá-los (o terror japonês Ringu, por exemplo, só se tornou conhecido após o sucesso de O Chamado). Não há muito sentido em revitalizar um filme já consagrado e apresentar a mesma história hoje em dia. É como se diz no popular: é o filme que ninguém pediu. Foi assim com o remake de Ben-Hur (que já era um remake também) e com a continuação de Independence Day. Ambos fracassaram de bilheteria e pode ser o sinal para Hollywood rever suas refilmagens.

Por outro lado, quando uma franquia dá certo, Hollywood a explora até as últimas conseqüências: a Disney já se pronunciou que fará Star Wars por muitos anos, a mesma empresa está investindo em versões live action de suas animações clássicas. Não devemos nos esquecer que a Disney tem o Universo Marvel.

O Universo de Harry Potter ganhará um spin-off, já foi anunciado que será uma trilogia: Animais Fantásticos e Onde Habitam, na qual o livro tem menos de 100 páginas e a autora/roteirista J. K. Rowling dissecou sua história para transformar em 3 filmes. E o que dizer de O Hobbit, um livro pequeno de Tolkien que se transformou em trilogia dirigida pelo próprio Peter Jackson?

Tudo isso é falta de criatividade? Com certeza! Mas é justamente isso que lota os cinemas hoje em dia: quem aqui não está ansioso por Rogue One, Animais Fantásticos ou Doutor Estranho?

E tem mais: o público reclama das continuações, mas quando surge algo original, o despreza, como foi o caso do recente A Bruxa.

Em suma, não há nada de errado em remakes, continuações ou franquias. Tudo o que queremos é ver grandes filmes, independentemente da originalidade, até porque há poucos cineastas hoje em dia com o poder de ser autoral e ter voz perante os estúdios e seus produtores. Muitos deles estão na TV, que sim, está melhor do que o cinema já faz alguns anos, mas isso é um assunto para uma outra ocasião.

Fonte: Retalho Club

 

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