Plane Crazy: Nasce Mickey Mouse

Curta-metragem exibido para uma pequena plateia em Los Angeles foi o discreto começo do maior símbolo da animação — e dos direitos autorais

Reprodução

Em 15 de maio de 1928, um cinema de Los Angeles exibia para uma pequena plateia a animação O Maluco do Avião (Plane Crazy). Um filme preto e branco, mudo, e com 6 minutos de duração, que mostra Mickey tentando construir um avião.

A inspiração foi o voo histórico de Charles Lindbergh, que cruzara o oceano Atlântico de Paris a Nova York, no ano anterior. Minnie, que também apareceu pela primeira vez no curta, aceita voar com Mickey, enquanto ele tenta impressioná-la.

Dirigida por Walt Disney e Ub Iwerks, a animação só ficou em cartaz por um único dia. Era um experimento: Walt sentou no fundo do cinema e observou a reação dos espectadores. Percebeu que era quase unânime: Todos amavam o rato preto. E assim, sem quase ninguém notar, surgia o maior ícone da indústria cultural moderna.

Artista ofendido

Mickey nasceu de uma vingança. Em 1927, Walt Disney e Ub Iwerks perderam os direitos sobre o personagem Oswaldo, o Coelho Sortudo, para o produtor e distribuidor Charles Mintz, com quem eles tinham uma parceria. Decididos a criar um personagem tão bem sucedido quanto Oswaldo, Disney e Iwerks começaram a trabalhar no filme que se tornaria Plane Crazy.

Ub Iwerks e os primeiros rascunhos de Mickey / Crédito: Reprodução

O novo projeto foi mantido em segredo e Iwerks trabalhou em um quarto isolado, escondido dos outros animadores. Ele desenhou todas as cenas de Plane Crazy em duas semanas. Chegou a fazer 700 desenhos por dia.

Mas nem tudo correu como eles imaginavam. Apesar de Mickey ter conquistado o público na estreia em Los Angeles, o filme mudo não chamou a atenção dos distribuidores. Disney, então, decidiu que a fala sincronizada era o futuro das animações — The Jazz Singer (O Cantor de Jazz), primeiro longa-metragem com falas, havia revolucionado o cinema em 1927.

Cena de Plane Crazy / Crédito: Reprodução

No lugar de adicionar falas em Plane Crazy, Disney usou a nova técnica no filme que sua equipe estava produzindo na ocasião, Willie do Barco a Vapor (Steamboat Willie). O novo curta estreou em Nova York, em 18 de novembro de 1928, como o primeiro filme sonoro do Mickey — por isso é geralmente considerado a verdadeira estreia do rato.

Em 17 de março de 1929, Plane Crazyfoi relançado, dessa vez com som. Foi o quarto filme sonoro do Mickey a ser lançado, depois de Steamboat Willie, O Gaúcho Galopante (The Gallopin’ Gaucho, 7 de agosto de 1928) e A Dança no Celeiro (The Barn Dance, 14 de março de 1929).

O sucesso dos filmes foi tanto que, um ano depois da estreia de Steamboat Willie, muitos cinemas americanos haviam instalado equipamentos de som. A maioria dos outros estúdios de animação ainda estava produzindo filmes mudos e não conseguiu agir contra a concorrência de Disney.

Lei Mickey Mouse

Mickey se tornou o personagem animado mais famoso de todos os tempos. E a propriedade mais protegida de todos os tempos, ao ponto de se tornar o símbolo máximo dos excessos do direito autoral, ou copyright.

A legislação de direitos autorais dos EUA foi modificada duas vezes, em 1978 e 1998. Fruto principalmente do lobby da Disney, que investe milhões em campanhas direcionadas aos congressistas, tentando manter Mickey fora do domínio público.

O Ato de Extensão do Direito Autoral de 1998, aprovado pelo congresso americano, foi apelidado pelos críicos de Lei Mickey Mouse. Por ele, os EUA tem o mais gigantesco período de proteção de copyright do mundo: 70 anos após a morte do autor, ou, em caso de propriedade de uma empresa, 95 anos da primeira publicação ou 120 da criação (no Brasil, são 70 anos depois da publicação).

Mickey, assim, será domínio público em 2023. Se a Disney não agir novamente para mudar as leis até lá.

 

Fonte: Aventuras na História

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