DC Comics pode limitar continuidade em revistas mensais com o Omniverso

Se você acompanha as revistas mensais de super-heróis da DC Comics e da Marvel Comics, sabe que elas funcionam como uma “novela infinita”. Ou seja, há uma cronologia de eventos que reúne todos os principais personagens em uma “Terra principal”. Para manter todas as propriedades funcionando e interagindo umas com as outras em sincronia, há um esforço muito grande dos criadores e editores — principalmente agora, em um momento em que outras mídias também acompanham a evolução das histórias, como no caso do Marvel Studios, que segue mais de perto o que acontece nas gibis.

Imagem: Reprodução/DC Comics

Para ter mais liberdade de criação e não ficar preso às dezenas de consequências que uma trama pode desencadear em um universo em sincronia, tanto a Marvel quanto a DC buscam edições especiais ou séries limitadas que acontecem fora da “Terra principal” — e nisso, o Multiverso de ambas companhias ajuda a “descolar” essas histórias da cronologia oficial, sem tantas “amarras” para os criadores.

Eis que a DC Comics estaria prestes a dar um passo importante para tentar solucionar essa questão. Isso já vem sendo feito, de certa forma, na TV e no cinema, e, agora, deve chegar aos quadrinhos. Se acontecer, de fato, promete ser um marco na editora e em todo o mercado.

Por que é tão difícil manter um universo compartilhado?

Os leitores de longa data gostam de ver como seus personagens prediletos evoluem e lidam com as mais diversas situações da época em que são publicados em um universo compartilhado. Mais legal do que ver somente o Homem de Ferro em suas aventuras, é também ler como ele lida com suas questões quando os Vingadores estão por perto.

Basta ver o que o Marvel Studios vem fazendo para notar que um dos grandes charmes da companhia é justamente oferecer essa sensação de que há sempre uma história maior no pano de fundo; algo que possa juntar os personagens em uma subtrama ou em algum conto ainda mais amplo. Mas, embora isso seja divertido, causa várias limitações e dificuldades nos bastidores.

Do lado criativo, os roteiristas, especialmente os de quadrinhos, precisam conhecer profundamente cada personagem e criar uma história de 24 páginas com começo, meio e fim; que seja amigável para novos leitores e que se conecte com todo o cânone — além de se manter fiel ao que ocorre atualmente na cronologia oficial.

Crise nas Infinitas Terras foi o primeiro reboot da DC para “organizar a casa” (Imagem: Reprodução/DC Comics)

É uma grande dor de cabeça, que causa incontáveis incongruências, especialmente quando, no caso da DC Comics, há a introdução de personagens adquiridos na “Terra principal”. Além disso, oferecer uma saga que seja difícil para novos leitores é algo impensável para o departamento comercial, que a cada ano perde audiência para outras mídias.

Então, o que vemos são reboot atrás de reboot; sagas que promovem a já desgastada continuidade retroativa (o famoso retcon); e inúmeras “edição #1”, que na verdade só têm sua numeração “zerada” para sempre oferecer a sensação de frescor para quem está chegando agora. Há anos existe um debate sobre o fim da cronologia em um grande universo compartilhado — e a DC agora parece estar realmente disposta a fazer isso nos quadrinhos.

DC e o Omniverso

Depois do fracasso inicial da DC Films em tentar tornar seus lançamentos em um universo compartilhado igual ao do Marvel Studios, a nova direção de Walter Hamada já vem explorando diferentes “Terras” em seus lançamentos — veja bem, na San Diego Comic-Con de 2018, a DC mudou discretamente seu slogan para “Worlds of DC”.

Desde então, o Universo Estendido DC (DCEU, na sigla em inglês) passou a limitar alguns títulos para universo compartilhado, enquanto outros lançamentos não são considerados parte dessa mesma “Terra” — como Coringa e The Batman. Isso também já aconteceu no Universo de Filmes Animados DC (ou DCAMU). Foi a forma encontrada pelos produtores do cinema e da TV para dar mais liberdade aos criadores.

E o mesmo pode estar prestes a acontecer na DC Comics. Enquanto o antigo coeditor-chefe Dan Didio propunha uma quinta linhagem de heróis (chamada de 5G) para “organizar” a cronologia com mais um reboot, os escritores Geoff Johns e Scott Snyder vêm acenando com algo diferente, que agora vem sendo chamado com mais frequência de Omniverso.

O Omniverso já vem sendo citado com mais frequência ultimamente (Imagem: Reprodução/DC Comics)

Em Death Metal: Rise of the New Gods, lançado esta semana, vemos o Ominiverso sendo citado como a “destruição do Multiverso original e a criação de vários Multiversos”. O próximo grande evento da editora, chamado de Future State, programado para os dois primeiros meses de 2021, prevê a ampliação do legado dos ícones da companhia, com outras versões do Batman, Superman, Mulher-Maravilha, e mais.

Isso tudo se conecta ao que Johns já havia escrito em Relógio do Juízo Final, em que ele também cita uma ideia semelhante, de Metaverso. Ou seja, a DC Comics vem realmente pensando em tornar sua cronologia em várias delas, mais autocontidas e amigáveis para os novos leitores — sem deixar de lado o cânone básico dos personagens.

Future State, em janeiro, vai trazer várias versões dos ícones da editora, inclusive uma Mulher-Maravilha brasileira (Imagem: Reprodução/DC Comics)

Pode parecer confuso inicialmente, mas, para compreender melhor, basta ver o que acontece nas séries do Arrowverse e do HBO Max, em que há os mesmos personagens vivendo em diferentes narrativas. Ou nos desenhos animados e nos próprios filmes da DC. Se isso vai dar certo, só o tempo vai dizer. Mas a nova abordagem é, desde já, corajosa e empolgante, até porque muito do que acontece de mais legal na DC nos últimos anos vem de especiais descolados da cronologia.

Fonte: Canaltech

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