Como a história inspirou os super-heróis dos quadrinhos

Eles refletem, em maior ou menor grau, o mundo real em que vivemos

Reprodução / Marvel Comics

Desde Superman, criado para levantar a moral do povo americano durante a Grande Depressão, os super-heróis dominam o imaginário popular. Pode parecer que suas histórias sejam pura fantasia, mas elas refletem a era em que surgiram. Veja a seguir os heróis mais populares e suas inspirações do que estava acontecendo no mundo real.

1938 – Superman

Primeiro super-herói dos quadrinhos, ele inaugurou a chamada Era de Ouro das HQs. O desemprego e a fome que atingiram os Estados Unidos nesse período fizeram a violência crescer a níveis assustadores. Essa angústia foi a deixa para o salvador alienígena da humanidade, sem quaisquer defeitos ou limites para seus poderes, que eram inventados conforme a necessidade — nem voar, ele voava, no começo.

1939 – Batman

Também seguindo a onda de combate à violência, o primeiro herói mascarado, Batman, surge para aterrorizar os criminosos. Batman era um tanto nostálgico em não ser “super”, algo dos quadrinhos da era pré-Superman, como Dick Tracy. Nas primeiras histórias, usava armas e matava sem culpa.

1941 – Capitão América

Mesmo antes de seu país ingressar no conflito, o Capitão América combatia os nazistas com um escudo em forma de diamante (só depois ficou redondo), um uniforme bandeiroso e a vontade férrea de dar fim aos inimigos da democracia. Sua primeira edição foi distribuída em dezembro de 1940, um ano antes de Pearl Harbor. A patriotada toda era demais para o pós-guerra e ele foi, literalmente, botado no gelo entre 1950 e 1964. Em 1973, diante do escândalo de Watergate, chegou a renunciar o patriotismo e assumir outra identidade.

1941 – Mulher-Maravilha

A primeira super-heroína fez sua estreia no mesmo mês em que os japoneses atacaram a base naval americana de Pearl Harbor, no Havaí, o que levou à entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra. Seu autor, William Moulton Marston, era uma figura incomum: vivia num relacionamento poliamoroso com duas mulheres, cada uma com dois filhos, e criou a super-heroína como um símbolo do que entendia do feminismo, a mulher “de uma nova era”. Deu a ela um poder e uma fraqueza baseados no sadomasoquismo, um de seus interesses acadêmicos: o laço da verdade, que a torna indefesa se amarrada com ele (quase sempre por homens).

1961 – Quarteto Fantástico

O Quarteto Fantástico inaugura a Era Marvel, na qual, em vez de aliens ou justiceiros mascarados, os heróis eram seres humanos comuns que adquirem superpoderes após exposição a raios cósmicos ocorrida num voo espacial. No mundo real, Estados Unidos e União Soviética, em plena Guerra Fria, davam início à corrida espacial e os raios cósmicos eram a palavra do momento, em discussões sobre como afetaria os astronautas, se sobreviveriam à radiação no espaço. No mesmo 1961, em 12 de abril, o voo de Yuri Gagarin já havia provado que sobreviveriam.

1963 – X-Men

Aqui, a nova geração de heróis já nasce superpoderosa, dotada de um fator mutante em seus genes que os torna odiados e perseguidos pela humanidade. São os X-Men, que sofrem na pele o preconceito racial que então dividia os americanos entre brancos e negros. É a época da luta dos Direitos Civis, e Martin Luther King e Malcolm X, líderes negros que polarizaram a cruzada pela tolerância racial nos anos 60. A metáfora é óbvia.

1963 – Homem de Ferro

Em meio a Guerra do Vietnã, o milionário Tony Stark sofre uma lesão no peito enquanto inspecionava um armamento desenvolvido por sua empresa, a Stark Industries, no Vietnã do Norte. Forçado a construir uma armadura, foge com ela, e, se você viu o filme, é basicamente a mesma história que hoje se passa no Afeganistão. Segundo Stan Lee, o personagem foi criado para ser exatamente o oposto do espírito dos anos 60: um capitalista, fabricante de armas, herói individualista, cujos inimigos são comunistas. A maior inspiração para Stark é o excêntrico milionário Howard Hughes, O Aviador interpretado por Leonardo di Caprio, que, entre outros negócios, fabricava armas.

1966 – Pantera Negra

Outra ideia da era dos Direitos Civis, o personagem é o primeiro super-herói de descendência africana em qualquer editora grande nos EUA. A associação óbvia com o Partido dos Panteras Negras, organização maoísta na defesa do direito dos negros, é mera (e embaraçosa, na visão da Marvel então) coincidência. Estreando em julho de 1966, precedeu em dois meses o surgimento do Partido, em outubro. Com a má-fama dos Panteras Negras comunistas entre o público branco, a Marvel tentou desassociar o personagem do nome. Em uma participação especial no quadrinho 119 do Quarteto Fantástico (fevereiro de 1972), o seu nome foi alterado para “Leopardo Negro”. Mas não colou.

Fonte: Aventuras na História

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