As verdadeiras cores das estátuas gregas

O mito da pureza branca de objetos gregos foi criado somente nos séculos 19 e 20. Entenda a história

Reprodução

Quando pensamos em Grécia, logo nos vem à mente a brancura de estátuas e templos, imponentes em sua pureza e formas perfeitas. Mas o que evidências arqueológicas têm revelado é que os objetos da Grécia clássica tinham mais cores do que se imagina.

A ideia da Grécia Antiga como o berço da civilização ocidental foi construída por estudiosos do Iluminismo durante o século 19. No contexto do Imperialismo e Neocolonização, exploradores europeus faziam expedições a países do Oriente Médio e do continente Africano em busca de vitórias políticas, durante o processo retornavam à Europa com inúmeros objetos de outras culturas. Um dos maiores exemplos disso é a Pedra de Roseta, fragmento de rocha de 1,12 metro de altura datada de 196 a.C., originária do Egito, que foi transportada à Inglaterra e hoje se encontra no Museu Britânico de Londres.

Nesse contexto, os arqueólogos (e a Arqueologia, assim como a História e Antropologia, era uma ciência em ascensão na época) passaram a escavar inúmeros objetos no território Grego, como estátuas, templos e ânforas, e construindo junto a outros estudiosos, uma história onde o passado cultural do mundo grego teria dado origem a uma pretensa superioridade europeia. Ideia semelhante fo disseminada na Itália durante o regime de Benito Mussolini, onde foram realizadas inúmeras escavações arqueológicas para resgatar indícios de um passado Romano glorioso rememorando práticas rituais, gestos, valores e símbolos para a criação do mito de superioridade fascista.

Conhecemos bem o culto que a civilização ocidental tem a cor branca, que simboliza aspectos como a pureza do vestido de noiva e a paz da pomba cristã. Diante disso, os objetos brancos como marfim escavados dos sítios gregos serviam como luva na caracterização dessa cultura. E portanto, os arqueólogos dos séculos 19 e 20  decidiram esquecer as evidências de que os templos e estátuas eram, na verdade, muito coloridos, evidências microscópicas que ainda podem ser detectadas nos objetos.

Reconstituição da policromia nos objetos gregos / Reprodução

Evidências demonstram que muitos objetos coloridos eram encontrados nos templos dedicados à deuses. Estátuas de da deusa Atena, Afrodite e Zeus e o frontão triangular na entrada de tais construções demonstram a importância que as cores tinham. Muitos dos pigmentos eram derivados de minerais, misturados com pastas feitas de cera de abelha, ovos ou goma arábica.

Templo grego clássico / Reprodução

Na antiguidade clássica uma escultura terminada sem pintura seria impensável para seu criador, considerada não estando devidamente finalizada. A ideia não era criar figuras imponentes e superiores, mas sim associá-las com a vida da população da pólis. Porém, com o passar do tempo os apreciadores da arte grega preferiram ver essas figuras como representações idealizadas de uma suposta pureza, imagem que serviu aos discursos políticos dos séculos 19 e 20, e segue em nossa mentalidade até os dias atuais.

Fonte: Aventuras na História

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