A revolução Neolítica foi mesmo tão revolucionária?

Durante a vida escolar nos acostumamos a escutar aquela velha história linear: no passado, as populações humanas eram nômades e se utilizavam da caça e coleta para sobreviver, enquanto ainda não tinham descoberto os benefícios da agricultura.

Mas com a Revolução Neolítica, cerca de 10 mil anos atrás, os caçadores-coletores se sedentarizaram dando origem ao que viriam a ser grandes civilizações como os Mesopotâmicos e os Egípcios.

Essa história oficial, desenvolvida em meados do século XIX por historiadores, arqueólogos e estudiosos influenciados por teorias darwinianas e pelo neocolonialismo contém vários problemas, como a sugestão de que civilizações hierárquicas seriam o auge da história humana e de que formas mas “simples” de viver estariam fadadas ao fracasso.

Mas pesquisas recentes vêm colocando uma pedra no sapato dessa história: comunidades caçadoras-coletoras existem até hoje, e têm tido muito sucesso através dos tempos.

O termo “revolução neolítica” foi cunhado em 1923 pelo arqueólogo australiano Gordon Childe para descrever uma série de mudanças em sociedades ao redor do mundo, como a sedentarização e a domesticação de plantas e animais. Childe aplicou em seus estudos arqueológicos uma visão marxista de sociedade, com etapas de evolução a serem trilhadas pelos grupos humanos e suas teorias foram aceitas pela academia sendo reproduzidas até os dias atuais.

Entretanto, existem no mundo inteiro sociedades nômades cuja relação com a natureza se dá através da caça e coleta, como os Nukak e Aché na Amazônia e os Mbuti na África Central. Tais sociedades mantêm um padrão de vida que respeita a natureza, manejando os recursos disponíveis de maneira branda e criando estratégias que não colocam em risco a reprodução do meio.

Vestígios arqueológicos têm comprovado que os caçadores-coletores nômades do passado amazônico tinham grande domínio sobre a floresta pela qual transitavam, conhecendo-a profundamente como se estivessem em um enorme jardim. Hoje em dia, os maiores riscos a esse modo de vida nômade vêm da própria civilização ocidental, que tem tomado suas terras e recursos e atuado de maneira agressiva com o meio.


Araweté da Amazônia voltando de uma caça / Reprodução

Por essas e outras, cabe a reflexão: a Revolução do Neolítico foi tão revolucionária assim? Ou foi apenas uma mudança nos padrões de vida de algumas sociedades, que tem repercutido historicamente com o surgimento de grandes aglomerados humanos? As sociedades nômades, com modos mais “antigos” de se viver, repercutem até hoje em uma trajetória de sucesso com relação à preservação dos recursos necessários para a continuidade cultural.

 

Fonte: Aventuras na História

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