A persistência da Marvel no iminente sucesso do Homem de Ferro

Não gosto do Homem de Ferro. Percebi quando comecei uma coleção de algumas edições “O Invencível Homem de Ferro”, de Matt Fraction, nos últimos anos da década passada. Se este era o melhor meio para simpatizar com ele, digam-me vocês. De qualquer forma, havia sido motivado por “Homem de Ferro”, de 2008, que assisti e gostei – e continuo gostando. Posteriormente, li alguns dos arcos mais comentados do super-herói, como “Extremis” e “Demônio na Garrafa” e, embora admita que muitos deles realmente contem histórias muito boas, nenhum me convenceu de que o personagem era mesmo cativante.

Sua versão mais conhecida e amada é o bilionário que conhecemos nos cinemas, sem dúvidas. Pela interpretação de Robert Downey Jr., Tony Stark ganhou uma personalidade mais apimentada e, assim, atraiu milhões de novos entusiastas. Foi no carisma de Downey Jr. que Stark encontrou seu espaço, mas as primeiras faíscas de sua ascensão não se deram exclusivamente pelo seu sucesso no universo compartilhado do Marvel Studios. A verdade é que a Marvel sempre investiu muito no personagem para que, iminentemente, sua popularidade se impulsionasse.

Foi criado por quatro cabeças em 1963: Stan Lee, Larry Lieber, Don Heck e Jack Kirby. Teve sua primeira história narrada em Tales of Suspense #39 – que chegou ao Brasil em Heróis da TV. Inspirado em Howard Hughes, popular aviador, engenheiro aeronáutico e produtor de cinema dos anos 30, só ganhou sua própria revista solo cinco anos depois, em 1968, que jamais “estourou” em vendas, mas vendeu o bastante para continuar sendo publicada pela Marvel.

Apesar de não ter alcançado sucesso imediato nos quadrinhos, a editora demonstrava amplo otimismo sobre ele desde o começo. Foi por causa desse potencial que Lee e Kirby o incluíram como um dos membros fundadores dos Vingadores antes mesmo de estrelar sua mencionada revista, em 1963. É irônico quando você lembra que o grupo era formado por super-heróis menos conhecidos em comparação com X-Men e Quarteto Fantástico. Sua integração à equipe deu certo e ele se concretizou nela, permanecendo como uma das suas peças mais revelantes mesmo com as reformulações pelas quais a formação principal passaria.

Nas décadas que se sucederam, a Marvel confirmaria sua estima e insistência nele ao incluí-lo em alguns dos seus arcos e sagas mais importantes. Teve sua participação nas Guerras Secretas de 1984, evento em que super-heróis e super-vilões eram reunidos em uma competitiva batalha do bem contra o mal manipulada por uma entidade cósmica. Também estava lá para lutar contra o Thanos na grandiosa Guerra Infinita. Além disso, teve papel essencial em Guerra Civil ao se contrapor à ideologia do Capitão América sobre como mutantes e super-heróis deviam agir ao redor do mundo, saga em que revelou seu lado mais sombrio e ardiloso.

O porquê dessa insistência? Toda a sua essência tecnológica e audaz sempre teve um caráter muito visionário e moderno, em contraste com o Capitão América, por exemplo, que está necessariamente ligado ao passado e ao que é mais tradicional. É claro que chegaria seu momento para brilhar e o percurso aconteceu justamente da maneira esperada: enquanto que Steve Rogers naturalmente perdeu um pouco do seu prestígio por estar fora do seu tempo, Tony ascendeu para se tornar um dos rostos mais conhecidos dos quadrinhos. Talvez fosse até mais bem-sucedido se sua galeria de personagens coadjuvantes e vilões fosse mais dinâmica.

O resultado do investimento contínuo da Marvel está exposto em cinemas, lojas de brinquedos e roupas, comerciais de TV, prateleiras de mercados, próprias bancas e em muitos outros lugares. É como disse no começo: não gosto do Homem de Ferro. Mas não tenho problemas para admitir que ele foi o super-herói que mais cresceu no século XXI em comparação com seu status nas décadas passadas – e há muito mais nesse processo além da simpatia de um astro de Hollywood.

 

Fonte: O Vício

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